O Homem Velho
Pobre do homem num mundo sem Deus...
Perplexo diante do paradoxo e da fatalidade,
pobre e patético homem,
caminhando sozinho em direção ao inevitável,
fingindo ser eterno sem crer na Eternidade.
Perplexo diante do paradoxo e da fatalidade,
pobre e patético homem,
caminhando sozinho em direção ao inevitável,
fingindo ser eterno sem crer na Eternidade.
Habita uma terra inerte e muda,
tomando seus frutos, destrói, dilapida.
Vaidoso e arrogante este que se crê
o único ser a desfrutar da vida.
tomando seus frutos, destrói, dilapida.
Vaidoso e arrogante este que se crê
o único ser a desfrutar da vida.
Não menos cruel ele é entre humanos,
somente com os seus é capaz de dispor
de um pouco de afeto, atenção e respeito,
talvez mais por posse do que por amor.
somente com os seus é capaz de dispor
de um pouco de afeto, atenção e respeito,
talvez mais por posse do que por amor.
Como pode ignorar o evidente
de que linhagens, posse e parentesco
traduzem-se em pó na linguagem do tempo,
de que linhagens, posse e parentesco
traduzem-se em pó na linguagem do tempo,
partículas soltas nas mãos da Natureza,
que já não guarda afinidades ou sobrenomes
nem reconhece ancestrais ou descendentes.
que já não guarda afinidades ou sobrenomes
nem reconhece ancestrais ou descendentes.
A sua crença numa superioridade,
numa rela e intrínseca diferença
graças à vestimenta que ora usa
numa rela e intrínseca diferença
graças à vestimenta que ora usa
opõe-no ao mundo, como um desafio.
Suas crenças valem mais que quaisquer crenças;
suas cores, mais que as cores da Verdade,
sem ver que, a um canto, já falha o tecido,
a mão de Cronos a puxar-lhe o fio.
As obras que saem de suas mãos frias
voltam a elas, avolumadas materialmente,
mesmo que ao custo de, em seu percurso,
deixarem tantas mãos feridas e vazias.
A principal obra do homem
já não é a construção do Homem,
pois o homem já não reconhece o Homem
e nem sequer supõe sua existência.
Solto e sozinho, num mundo casual e injusto,
está desprotegido como uma criança.
Eis, entre nós, um homem realmente velho:
mortos os sonhos, morta a esperança.
Mas eis que se ergue o ancião e abre a janela,
deixando entrar, então, a luz do dia,
e, a despeito das leis da entropia
que regem este mundo plano e linear,
onde toca a luz, tudo transmuta:
o que parecia caos, em harmonia,
o desrespeito e o egoísmo em cortesia,
o homem velho num ser que já não tem idade.
Percebe, então, a sutil realidade:
o verdadeiro Ser supera idades
e paira, etéreo e livre, sob a luz,
e é dele mesmo, enfim, que ela irradia.
Lúcia Helena Arruda
Lúcia Helena Arruda
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